20091020

Programa de Indie

CARLA CASTELLOTTI
TALITA MARQUES
Especial para a Gazeta

No Ar Coquetel Molotov, festival recifense em sua sexta edição, cresceu mais este ano. Com uma programação plural e arriscada, apostou tudo e mereceu aplausos de quem passou pelo evento. O festival, que nos anos anteriores era reduto de jovens curiosos sobre música, abriu espaço neste ano para o tradicional e revolucionário show de comemoração dos 35 anos de Clube da Esquina. No entanto, a grande responsável pela venda de ingressos foi a banda norte-americana Beirut.

Recife, PE – No caos de Recife se organiza um dos principais festivais de música alternativa do Brasil, o No Ar Coquetel Molotov, ocorrido nos últimos 18 e 19 de setembro. Este ano, o festival contabilizou mais 5500 pessoas, no que parecia um grande shopping center indie. Justiça seja feita, a produção conseguiu combinar propostas para diferentes públicos e gerações em 16 apresentações, reunidas numa decisão acertada de mudar o local anterior dos shows (as edições antigas haviam acontecido no Auditório na UFPE).

As atividades se iniciaram uma semana antes dos principais shows, movimentando a cidade com mostras de filmes, oficinas, debates e pocket shows. A presença de bandas suecas e francesas, três para cada lado, deu-se por meio da parceria com o Swedish Institute e com o subsídio do Ano da França do Brasil. O Coquetel Molotov é um dos poucos festivais independentes a remunerar todas as bandas envolvidas, valorizando seu produto bruto, fato que não é regra na cena Brasil afora. De 2004 para cá, quando estreou, o Coquetel trouxe medalhões do rock independente internacional, a exemplo de Teenage Funclub (Escócia), The Kills e Tortoise (EUA), Nouvelle Vague (França) e Peter Bjorn and John (Suécia), e nomes nacionais como Cidadão Instigado (CE), Móveis Coloniais de Acaju (GO), Guizado (SP), Marcelo Camelo (RJ) e Cibele (SP), mantendo-se na vanguarda da produção cultural.

Além dos vizinhos alagoanos, muita gente de outros Estados apareceu para curtir os dois dias de shows no espaço organizado e refrigerado. Na sexta, às 18h00, o Centro de Convenções de Pernambuco já estava abarrotado. Muita gente circulava entre barraquinhas de roupas, HQs, discos e CDs. Para quem se arriscasse em frente ao público, um dos patrocinadores armou um palco-estúdio para jam sessions, no qual as improvisações eram gravadas.

Os shows foram divididos em dois palcos. O primeiro, o Auditório Tabocas, aberto também para não-pagantes, dava a largada da maratona festiva em um espaço bastante agradável. O Teatro Guararapes, por sua vez, fazia continuar aos trabalhos, ainda que de forma um pouco castradora, uma vez que lá não se podia comer, beber, fumar. E não para por aí, há sempre questões protocolares, dúvidas como levantar ou ficar sentado, apreciando educadamente. Combina pouco com música independente, mas pensemos na acústica, que esteve perfeita em todas as apresentações.

O grande lance de ser ir a um festival não é somente assistir a uma apresentação ao vivo de um grande hit da novela. Além do hypado, está o clima que envolve os aglomerados de bandas. As surpresas sempre existem, para o bem ou para o mal. A banda que parece incrível no mp3 player, ao vivo pode se mostrar pouco expressiva, a ponto do espectador sair de fininho, constrangido, para comprar uma cerveja. Por outro lado, nomes que antes nada diziam correm o risco de se tornar os serão ouvidos incessantemente nos próximos meses.

E COMEÇA A FESTA NO RECIFE

No palco secundário, os mineiros da Dead Lovers and Twisted Heart atacaram, no início da noite, com um som moderninho, de letras fáceis e grudentas. Dentre as apresentações gratuitas, a cereja do bolo foi a banda sueca Those Dancing Days. As garotas divertiram o público, com seu indefectível pop dançante, com direito a um inusitado cover de Toxic, da Britney Spears.

No teatro Guararapes, Jam da Silva Abriu os trabalhos. O pernambucano, que compõe algo que remete a DJ Dolores & Orchestra Santa Massa, misturou sons de instrumentos artesanais a batidas eletrônicas. Jam preenche bem seu som, mostrando-se maduro ao compor a chamada música universal, conceito um tanto desgastado, mas que aparece oxigenado quando nas mãos do percussionista.

Com corpos cansados e pileque subindo no gráfico, era chegada a hora de ver o show da dupla paulista Thiago Petit e Tié. Duas vozes doces, uma amante do samba, outro do tango. Embora Caetano tenha falado tão bem da moça, o duo se colocou timidamente no palco, que por vezes parecia imenso, apesar das belas canções. O público viu e aplaudiu os jovens cantores. As letras em inglês e o flerte com outros ritmos pareciam, ao final, apenas um resquício do que um dia já foi bossa nova.

Cabiam pouco mais que sete formigas ensaboadas no auditório que aguardava Beirut e, nesse embalo, apresentou-se Sebastian Tellier. O fogoso francês prometia deixar todo o público envolvido com seu erotismo, ainda que sua figura não provocasse efusões nesse sentido. Foi um show rápido, Tellier apresentou seis composições. Nada muito lascivo, mas muito bem executado e humorado, som ao vivo com sintetizadores e instrumentos tradicionais, semi-dançante e decerto de espírito rocker, o que cativou o povo, provocando gritinhos de bis.

O primeiro dia era da banda norte-americana Beirut. De acordo com Jarmeson Lima, produtor do festival, acima de três mil pessoas circularam no local, somente na sexta-feira. Ingressos esgotados, cambistas mostrando os dentes. A minisérie global Capitu, adaptação da obra Dom Casmurro, mesmo com horário tardio, pegou os adolescentes apaixonados de jeito com Elephant Gun, canção que virou música da vida de vários deles.

Beirut foi um daqueles shows para se gabar de ter visto, mesmo com público histérico à Los Hermanos. A banda mais esperada do dia já entrou entoando Nantes, do último álbum The Flying Club Cup. Além dos instrumentos convencionais, cambiados conforme a música, juntam-se a eles o acordeão, o bandolim e o ukulelê – este tipicamente havaiano – além dos da família dos metais: trompete, euphonium e o fliscorne.

Após algumas audições, a sensação é de novas roupagens para uma espécie canção inconsciente, com Zack Condon, vocalista do grupo, levando-nos com sua voz terna, até o esperado ápice, provocado pelos metais, violentos e melancólicos. Com ares de pesquisador, Condon, de apenas 23 anos, passeia forte em suas composições, do Leste Europeu ao México – sem esquecer, claro, de clássicos como o grupo britânico The Smiths.

O show de Salvador, consta, destoou do de Recife. Segundo relatos, a embriaguez do líder e seus compartes mostrava-se evidente na apresentação soteropolitana. Já na Veneza Brasileira, a coisa mudou de figura, o grupo aparentava estar bem mais sóbrio que o público. Apresentou versões de La Javanaise, de Serge Gainsbourg, e de Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, fazendo o teatro se empolgar sobremaneira, compensando de vez qualquer lambança anterior. Ao final do show, apesar do grande número de seguranças no entorno do palco, uma garota de vermelho conseguiu invadi-lo, sussurrou algum segredo para o vocalista, fazendo-o retornar para uma última canção.

SEGUNDO DIA, OU SEJA, MILTON NASCIMENTO

Diferentes gerações dividiam o mesmo espaço, no sábado, para ver a grande atração anunciada com mistério: Lô Borges convida Milton Nascimento para uma apresentação em nome dos 35 anos do Clube da Esquina.

No auditório dos shows gratuitos, foram bandas pernambucanas que animaram a maior parte do público. Radistae estreou bem com seu surf music cheio de metais, que contaram com a presença do maestro Spok, da Spok Frevo Orquestra. Em seguida, os meninos da Sweet Fanny Adams desceram a mão nas guitarras sem distorção pra fazer um rock cru, lembrando Franz Ferdinand nos momentos mais dançantes e, quando imprimindo peso, Queens of The Stone Age.

François Virot começou seu show tocando baixinho no violão um folk intimista, com bonita voz – talvez fosse mais adequado locá-lo no teatro Guararapes, o que não impediu o francês de representar bem seu som. Menos discretos, os compatriotas de Virot do Zombie Zombie animaram com força a última apresentação do palco secundário. Formada por Etienne Jaumet (sintetizadores) e por Cosmic Neman (bateria), o par agarrou o público que se preparava para mudar de arena, apresentando um projeto performático que se valia, criativamente, de aparelhos vintage como delay analógico, gravador de fita cassete, piano de brinquedo, além de um teremim nervoso que lembrava a trilha sonora de um thriller animadinho.

Para alguns, o show do projeto São Paulo Underground foi cansativo e até soou randômico. No entanto, a banda do virtuoso Maurício Takara mostrou-se em um momento de ansiedade crítica por Milton Nascimento – ou, talvez, o público ali não estivesse interessado em conhecer algo mais experimental. Parece ter havido uma estratégia de escalação infeliz, o povo queria música com refrão. Takara e seus amigos apresentaram um som que se assemelha, em parte, ao que ele faz na banda Hurtmold, mais conhecida por ser a que acompanhou Marcelo Camelo em sua turnê do álbum Sou/Nós. Nem o Bolero de Ravel estilizado ajudou a animar os fãs do Miltão.

Não há como escutar Lonely, Dear, sem remeter o som, já na primeira música, aos escoceses do Belle & Sebastian. Eles nem pretendem esconder as referências, o que ao menos, deixa o som simples e limpinho. O show dos suecos apenas distraiu quem esperava o principal da noite.

No show em que Lô Borges convidou Milton Nascimento, mesmo para os não-fãs, foi de hipnotizar. Até um desavisado, que porventura adentrasse no Teatro Guararapes, saberia que ali estava havendo algum tipo de transe coletivo. Lô começou cantando com sua banda os clássicos do Clube da Esquina, títulos como Paisagem na Janela e Trem Azul e mais os sucessos Dois Rios e Resposta, composições que ficaram famosas a frente do grupo Skank.

Bastou Bituca, apelido carinhoso de Milton Nascimento, entrar no palco e cantar no piano Cais para que o público fosse a baixo. Um show foi grandioso, cheio da importância histórica contida em cada um dos compositores e arrematou a sexta edição do No Ar Coquetel Molotov, que vem evoluindo e experimentando a cada ano.

Para os que não foram este ano e se animaram com a proposta, em 2010 tem mais. Os pedidos e especulações começam desde já na internet. Basta seguir o Coquetel Molotov – no Orkut, Twitter, Flickr e afins – e fazer seus pedidos e orações e, de resto, esperar pelos próximos arremessos.


Matéria publicada na Gazeta de Alagoas do dia 26 de setembro de 2009. Fotos de Caroline Bittencourt.


5 comentários:

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